quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Mais um dia sacana na minha vida


Dedicada ao trabalho, supera os limites, tem predestinação para receber elogios, sim, sou eu. Tenho me sentido uma Brastemp, estilo a melhor da série. E tudo isso só me causa umas náuseas, estou tão organizada, demorei anos pra chegar neste patamar e puta merda, penso, que saudade de quando eu era só a bagunceira que chegava da faculdade, jogava as coisas no sofá e me tornava uma das tralhas daquela casa que chamava de lar. Tinha meu Miojo de frango caipira pra comer, uma Coca sem gás na geladeira e com sorte um Ouro Branco velho, talvez, mordido. Achava minha rotina uma droga, nunca achava nada naquele muquifo, o cinzeiro só era esvaziado nos finais de semana, muitas bitucas... Meu "lar" cheirava Guddang Garam com essência de cereja com menta, nos últimos semestres, cannabis sativa fazia parte das minhas noites, duas bolas, e pronto, o paraíso descortinava à minha frente. Um sono tão delicioso, pequeno, acordava num arroubo, como quem dorme 10 minutos. Começava outro dia. Tinha um sub-emprego, questionava todos os dias o que eu fazia ali. Daí lembrava que tinha que pagar o aluguel do muquifo e sobrar uns trocados pra comer e sair pros botecos-copo-sujo de Brasília. Shows com uma galera muito estranha, "meus amigos", gente que nem troco mais ideia. Eles estão na mesma vida, e eu? Sim, dizem que evoluí.

Sei lá, a vida é muito torta, talvez um aparelho igual o ortodôntico faça ela ficar certinha. Só que certinha demais cansa. Por isso meus dentinhos da frente continuam com um torto lindo. Demorou anos, consegui umas coisas, sou a pessoa que queria ser. Estou aparentemente feliz. E concluo que sinto saudade de ser o que era: despreocupada com a bagunça.

Ser organizada, caxias, resolutiva e perfeitinha, trouxe-me de presente de Natal, adiantado, o que todo mundo diz que tem e nem sabe o que de fato é: o estresse. 




sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desafinador


Dedilhar pensamentos recentes
Buscar na memória acordes passados
Traz sons ruins que de repente
São mais agradáveis que estar ao seu lado

Doente, jurei não ouvir 
Nossas músicas melosas
Talvez por não querer unir
A dor ao que hoje me apavora

Não comentei nada
Só as paredes ouviram
Minha voz afinada
Embargada e de mim riram

Sento ao lado da solidão
Volto aos pensamentos
Deito no claro chão
Vida, meu pior envolvimento




quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mãe


Estava deitada, sozinha, acostumada ao meu silêncio, quando ela entrou pela porta. Ao notar a sua presença, disse:
- Pois não, senhora.
- Eu te conto as coisas, você fica chateada, depois ele vai notar que o trata diferente. (Cochichou.)
- Nem é por isso que fiquei chateada, é outra coisa. Estou sem paciência hoje. 
- Não pode ficar sem paciência.
- (?)

Ela saiu como se tivesse resolvido tudo e sem me entender em nada. 

Talvez esse seja o problema do mundo, as pessoas falam o que as afligem, mas não ouvem as aflições alheias, tampouco se importam. Não que ela não se importe comigo. É uma guerra travada de interesses sentimentais e existencialistas. O dela é manter o nosso mundo sob constante supervisão e em "equilíbrio". 

O meu é só ter paz. 



sábado, 25 de maio de 2013

Tempo, o encarregado


O que fazer quando se enjoa de uma amizade? Foi a pergunta que me fiz naquela noite de sábado, em que eu me curtia e lia ao som de alguma música bacana. 

Recebi sua mensagem que parecia afetuosa e ao mesmo tempo tão nauseante, e por me sentir assim me julguei severamente. Não sei lidar com essa sensação nova e duramente repugnante. Como alguém que eu colocava na minha estante, no lugar mais apreciável, de repente se tornou alguém que considero fútil e passível dos meus julgamentos? 

Sinto-me tão proximamente distante. E temo que seja o fim. Eu saberei lidar com o fim, tenho quase absoluta certeza disso. Na altura da minha pequena sabedoria, sei que me sinto assim devido a uma vontade escondida lá dentro do peito de que isso realmente aconteça. Gosto da sensação de alívio que me causa não ser tão mais ligada, conectada a uma amizade que por muito tempo eu achei que me fizesse só o bem.

Era um bem maquiado, uma felicidade proporcionada à base de risos frouxos, noitadas, sábados de piscina, madrugadas me sentindo como divã. Eu cansei de ver seus dramas desproporcionais e desmedidos. Te ver como vítima do mundo, da sociedade, da realidade, das suas escolhas, da sua família, desencadeou a minha angústia de não poder dizer uma verdade crua. 

Minhas sinceridades ficam aqui, porque sei que falar e ser entendida são duas coisas impassíveis de acontecer. Longe dos olhos dessa amizade, longe do coração que poderia se quebrar, longe dos julgamentos do seu mundo limitado.

O que resta é esperar o tempo passar e se dá ao trabalho costumeiro de afastar as pessoas. Devagar e quase imperceptível aos desatentos.



Que dia?




E eu morri mais um dia
E eu esperei mais um dia
E eu chorei mais um dia
E eu toquei a música mais um dia
E eu me fechei mais um dia
E eu suspirei esperança mais um dia
E renovei as forças mais um dia
E questionei até que dia mais um dia


O som amargo da sua voz



Ouvi as palavras com gosto de podre, as engoli com nojo, não pude reclamar ao que me alimentava com essa refeição pavorosa, reclamei escondido. Sentei na cela suja, escura, fétida. Um dia sairei do cativeiro? Logo sim, os otimistas tem o defeito, o raro defeito de crer no impossível, ainda que as circunstâncias não sustentem sua fé.

Quis matá-lo, bater, fazer sofrer. E tornar os seus dias piores que de um miserável. Só que sofreria junto.

Passou mais um domingo, te vi passando por mim, reconheci pelo carro, mesmo de longe e em alta velocidade, pelo seu jeito desesperado de dirigir e jogar luz alta, o óculos espelhado ridículo. Não me viu. Menos mal. Voltei ao estado de solidão.






domingo, 5 de maio de 2013

Domingo

Escrevo na esperança de transpor ao escrito minha tão babaca tristeza, chego ao desespero de escrever, algo que já não faço há tempos, não por preguiça ou falta de tempo, o coração anda cheio de estagnação e se anda estagnado a escrita para... Doídos dias. Por oportuno, li recentemente algo que me chamou a atenção, elucida que as adversidades nos torna pacientes e a paciência colabora para a  experiência e assim a experiência traz esperança. Confortador não? Talvez. Deveria ser! Tinha que ser! Eu queria que confortasse.

O peso dos segredos doem as costas, os ombros, sustentar tudo sozinha me mantém prisioneira de mim. Não quero ser incomodo pra ninguém, na verdade sinto que poucos se importam ou pior, que ninguém se importa mesmo. E, sinceramente, vejo as pessoas e não sei, me tornei menos tolerante? Observo-as de longe e de perto, parecem a mesma pessoa, com caras iguais, gêmeos nos sentimentos, egoístas... E digo pra mim mesmo: se conforme! Então é isso, vim ao mundo pra me conformar com pessoas egoístas e um mundo egoísta. Então eu me importar com as pessoas me faz um ser estranho? Continuo me importando? Deve ter outros como eu, tem que ter!

[Insira uma música triste]






sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Redenção


Aqui, neste exato lugar, sente-se em casa. A mudança vai além da geografia. Deixou todas as máscaras em cima da cama junto com as roupas que não quis levar. O cheiro característico do mato, do sagrado mato, transporta sua alma, o espírito e a matéria por completo. Arrebatada está. No batente de tijolo mal feito, senta-se, percebe e ouve os sons antes não audíveis abafados pelo barulho da rotina da cidade. Despede seus monstros com um aceno de até logo, sim, é sabido que eles voltam, sempre voltam. Dá férias de si mesmo por um curto lapso de tempo, dentro da tarde eterna do menor mês do ano. Está seca, com fome, absorta... Em meio ao sossego puro, genuíno, ela, só ela compreende a transformação interior no encontro perpétuo com a terra, liga-se novamente como se nunca houvesse saído de lá, toma a forma de cinza e pó. É isso que todo o ser é. Imersa na água gelada mistura-se, dissolve-se, forma líquida de ser. O fôlego forte, acalma-se. Carrega o alívio dos que não se oprimem com as exigências da sociedade. Plena, pura, única. Não é filha, não é mãe, não é irmã, não é gente, não é namorada, não é amante. É um ser desprendida de rótulos, costumes, conceitos, nomes e das cruéis imposições. Atrás dos óculos escuros não esconde mais os olhos úmidos e cansados de tantas noites mal dormidas e chorosas, disfarçava o olhar escondido, era um olhar perguntante, questionador. Desafiava a sua própria existência, os seus pudores, suas ilusões. Testava seus limites, sua condição, seus princípios. Nada disso importa agora. Os óculos escuros só a protegem do sol. Apenas do sol. Calçou-se com botas da liberdade, vestiu-se de nudez, usou a água como maquiagem, só lavou o rosto e andou pelas vielas, andou de dia, a tarde dormiu, a noite andou, pela madrugada viu estrelas, muitas delas, surpreendeu-se como as tinha esquecido, lá não há luz suficiente pra apagar o brilho das estrelas, entorpeceu-se. Egoísta, quis guardá-las só pra si. Pensou: "Será que as pessoas têm olhado pras estrelas? Contado algumas?" Aquelas já mortas, mas que ainda, ainda, brilham. "Será que estou morta, e, ainda brilho?". Assim como as estrelas, ela se sentiu uma. Brilhosa, irmã de muitas, fã do sol,  esquecida por vezes pelas pessoas, idolatrada pelos místicos e astrônomos pelos séculos e séculos. Imortal. Dormiu com todas as incertezas de sempre, elas eram companheiras antigas. Acreditava que as incertezas proporcionavam os questionamentos, gerando dúvida e uma infinita busca. E isso propulsiona a vida, calibra os pneus do ir e do porvir, lubrificam as emoções. Gera-se vida. E era o que ela sentia. Vida dentro de si. Vida pra fora de si. Vida entrando em si. Vida afora, vida comprada, vida vendida, vida trocada, vida trapaceada, vida tapeada, vida insossa, vida alucinada, vida falsa, vida besta, vida vã, vida passageira, vida lúcida, vida bêbada, vida duvidosa, vida alucinógena, vida efêmera, vida sadia, vida sábia (?), vida, vidas. Da paz que a vida não trazia, não demonstrava. A vida fingia pra ela uma paz divergente, contraditória, até insalubre. Lá tinha paz. Os desassossegos também descansaram de atormentá-la. Ouvia vozes humanas que falavam muito, não diziam e nem se faziam entender nada.
Acordou com uma voz familiar. - Acorda querida, há muito o que fazer, o dia faz sol, talvez não chova hoje. Levantou-se, o "muito o que fazer" era inquestionavelmente desejado. Muito a fazer de nada. Só viver.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Lente de aumento

Meu último escrito foi há quase dois meses, de uma forma sombria descobri que reler meus textos ainda me deprimem, não me reconheço neles. A dona dessas palavras se difere de mim, do que sou hoje, isso não é um troféu nem tampouco uma alegria idiota, não me dou ao luxo de fantasiar que sou alguém melhor após vários tropeços. Minha percepção desta pessoa que escreveu sobre o amor, paixão e sentimentalidades, só exprime pena. Não que eu ache isso ruim. Sentir pena tem algum significado. Pena, deriva do amor. Nisso elas se fundem. Porque pensam no amor. Embora, pensem diferentemente a respeito deste. Mas, não vim falar de amor. Essa palavra apareceu demais num texto que não tem intenção nenhuma de fazer sentido. Eu sempre quis fazer sentido pras pessoas, depois senti uma vontade incontrolável de fazer sentido pra mim mesma. E tudo não passou de uma grande tolice e perda de tempo. Fazer algum sentido cansa, cansa muito. E tudo que me cansa, eu desisto.  Os velhos e até os novos, deram pra dizer que a vida "escorre pelas mãos", desse modo, ficar cansada durante esta vida que possuo é um grande vacilo. Decididamente, pessoas cansam-me, assim como as diversões, as estações e por aí vai... As pessoas, estas, são campeãs em tornar minha vida um grande enfado, claro, umas mais que as outras, outras poucas conseguem vivificar-me (raras, eu diria), dessas eu cuido como ornamento do meu pescoço. Tenho prestado atenção nos meus defeitos, e, assustadoramente fiquei perplexa, eu fui traída pelas minhas pretensões de adolescente, pensava que iria me tornar um ser humano melhor, tinha ares de revolucionista, lembro-me que dizia sempre "NUNCA farei isso ou aquilo", como eu era uma tola. Tornei-me pior. Talvez, esse não seja um bom momento para explanar sobre meus novos defeitos adquiridos, vou guardá-los pra mim, ainda, como um brinquedo novo que só eu quero brincar. Quero dizer ao menos um para não parecer muito egoísta e somar a todos mais este. Até hoje depois de dez anos de uma vivência (que para uns pode ser profunda e intensa, para mim foi um palavrão), eis que ainda estou presa na cama com as cordas da preocupação do que pensam ao meu respeito... Este sim, é um ENORME defeito!  Oras se eu cheguei ao mundo e lá estava eu só num berçário de um hospital qualquer, talvez chorando, com fome ou frio e, inevitavelmente, chegarei a finitude da vida só, por que diabo eu tenho que me importar com o que os outros pensam? Essa grande merda me aflige. E tem mais, eu vejo e leio as pessoas, observo um ar de estarrecimento aos acontecimentos da vida, da dor, da morte... Principalmente, a morte. E, francamente, esses putos vivem uma vida de merda, fantasiosa e irreal, fingem que nada e ninguém poderá tirar-lhes o fôlego de vida, mas quando se trata da vida alheia, dizem "vamos viver tudo que há pra viver"...  Viver tudo, engolir o mundo, felizmente, não extinguirá o final do processo da vida. E eu me sinto estranhamente confortada, só de saber que muita gente sacaninha vai padecer e vivenciar a dor, o sofrer, a angústia, o ruim, o enfado da vida nas costas e nos ombros e, por fim,  (a melhor parte, a parte que cabe a todos, a parte inalienável da vida) merecerá a morte.
 É o que eu tenho pra hoje. São estas as palavras, nem boas nem tão ruins. São só palavras. Sorte que eu e todos são mutáveis. Em algum dia minha mãe me fez ser uma palavra, que até então me definia: Lucélia. Quando eu morrer, serei somente isto também, porém com outras palavras precedendo meu nome, ainda assim, somente palavra: aqui jaz Lucélia.

(O cadáver - 1894)