quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nua

Eu me despi
Nua em pêlos
Não me refiz

Tanta vergonha
Olhos baixos
De tudo que fiz

Só agora lembro
Das palavras amargas
Escritas com giz

No peito restam
Marcas a ferro 
Feridas e cicatriz

Talvez pra me lembrar
Que quase não morri
De amor por um triz




quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Era uma casa muito engraçada

"Já morei em tanta casa que nem me lembro mais..."

Nesse ano já morei em três casas, em lugares distintos, a última em que me instalei eu não a amo, estou localizada no endereço todas as noites, exceto final de semana, mas não moro lá, não sinto minha casa. O meu eu não faz moradia lá, apesar de gostar e ter necessidade de rotina, não está adiantando muito programar os meus passeios pela casa e minhas atitudes calculadas de subir escadas, apagar luz do corredor, abrir e fechar a porta, colocar a bolsa em cima da cama, tirar a roupa, ir para o banho, fazer algo pra comer e depois desabar na cama. Nada disso tem surtido efeito. Não me sinto à vontade na minha própria casa, falta algo, falta alguém, faltam risadas, faltam conversas, falta tanta coisa... 

Acordo no meio da noite, ainda não é hora de levantar... Acordo cedo pela manhã ainda não é hora do despertador tocar...

Preciso de escuro pra dormir e silêncio, nada disso existe lá. Estou cansada de ir pra casa, quero ir pra outro lugar, um lugar meu, aquele de antes. E as lembranças das minhas outras residências me assombram, eu gostava delas, do que elas representavam pra mim, das visitas dos meus amigos, da ligações dizendo "Tô passando aí". 

Minha cama de casal, tão imensa pra o meu corpo tão pequeno. Me agarro aos travesseiros e edredons, olho pro teto, reflito, fico louca, ás vezes, deliro. Estou ali, mas distante de tudo que me diz estar presente, viajo no passado e me teleporto pra um paraíso imaginário. Só assim alcanço o cansaço da minha mente, consigo dormir e começar tudo novamente, como se isso fosse algo bom, o que não é.

Sabe o que eu queria, gargalhadas pela casa, cheiro de comida pra dois, brigas pelo controle remoto, discussões infantis sobre time de futebol, dormir em um dos cantos da cama, não quero mais ser o centro, quero ser metade, a sua metade. Quero pernas repousadas no meu quadril, roncos de cansaço, abraços de frio, esquentar meus pés nos teus e sentir arrepio, quero carinho e carícias ao longo da noite... Quero tudo e quero logo.


Aquela casa não meu cabe, não me acolhe. Tem chão, mas não sinto meus pés firmes. Tem teto, mas parece vão. Tem cômodos, mas são incômodos. Tem vizinhos, mas é só solidão. Tem tudo o que eu não preciso e tem nada que eu quero. 


"E o medo era motivo de choro, desculpa pra um abraço ou um consolo"

Vem de dentro




Indesejáveis desejos
Sem querer os almejo
Deliro nos meus pensamentos tolos
Nos meus sonhos você se faz de bobo

Cercas o meu pescoço
Com teus braços me envolvo
Busca intensa e paciente
Pela tua vontade iminente

Sentimentos velados
Apesar de esperados
Não vão acontecer
Ilusões de um anoitecer